Com sede localizada na Zona Sul da Cidade de São Paulo, a instituição atende mais de 900 crianças e adolescentes.
1. De que forma a pandemia tem afetado o trabalho da organização?
A pandemia é uma preocupação de todos, principalmente porque ela evidenciou ainda mais os problemas sociais do nosso país. São inúmeras as famílias que foram privadas de recursos suficientes para garantir seu sustento, moradia e alimentação.
Acesso às atividades: a oferta, em condições de igualdade de acesso, de atividades às crianças, adolescentes e jovens dos três Serviços da Obra do Berço, foi uma das preocupações em 2020, e permanece como desafio com o agravamento da pandemia e necessidade decorrente de distanciamento social. A tecnologia que passou a ser uma grande aliada, em contrapartida, por não ter sido disponibilizada a todos, se tornou o vilão daquelas famílias de altíssima vulnerabilidade sem acesso às ferramentas tecnológicas para conseguir continuar estudando e participando de atividades em casa, dificultando assim o desenvolvimento pessoal, social e escolar de milhares de crianças e adolescentes.
A batalha da estrutura da organização: lidar com todos esses problemas e conseguir manter sua estrutura de trabalho em meio a queda de mais de 67% na arrecadação de recursos, condição também vivenciada pela Obra do Berço.
2. Em que estado se encontra o cenário da educação na região em que a Obra do Berço atua?
A Obra do Berço possui alguns convênios com a Prefeitura do Município de São Paulo. Assim, atendemos a três CEIs (Centro de Educação Infantil). Além disso, o convênio com a prefeitura também envolve o CCA (Centro para Criança e Adolescências) e o CJ (Centro para Juventude. Nestes casos, o nosso trabalho de educação designa as ações desenvolvidas nas escolas e também socioeducação para as crianças e adolescentes atendidas nos Serviços de Proteção Social que atuam em contra-turno escolar. É importante diferenciar as instituições, já que cada modalidade é beneficiada com um trabalho diferente. Enquanto os CEIs, que são unidades escolares, desenvolvem um trabalho social com alunos e famílias em situações de vulnerabilidade social, o CCA Nova e o CJ Conecta complementam a educação escolar por meio de estratégias diferentes, cujo foco é ampliar a cidadania e a conexão com a família e a sociedade.
Cenário atual: ampliação de unidades de atendimento no Município, menos lista de espera para vagas e investimentos de recursos voltados às necessidades estruturais e pedagógicas das unidades.
Serviços Socioassistenciais como o CCA Nova e CJ Conecta: há muitos desafios devido à atual da Política Pública de Assistência Social, que mesmo tendo avançado em suas conquistas desde o início dos anos 2000, com apoio dos setores privados ao Terceiro Setor e implantação do Sistema Único de Assistência Social, vem declinando devido orçamentos públicos insuficientes, em especial dos Serviços voltados às crianças, adolescentes e jovens mais vulneráveis, que com as crises econômicas recorrentes e agora com a pandemia, cada vez mais ficam excluídos da evolução da sociedade.
Demais colégios públicos da região do Campo Limpo: cada escola na região vem adotando um formato de atuação durante a pandemia, mas considerando as característica das populações que residem nas comunidades periféricas, sabemos que estão ocorrendo prejuízos consideráveis na evolução da aprendizagem escolar de crianças, adolescentes, e jovens especialmente devido às dificuldade de acesso à tecnologia que afetam as famílias com menor renda econômica.
3. Qual o impacto do Projeto Base, da Oriba, no trabalho da organização?
O maior impacto que o Projeto Base trouxe foi o estímulo à permanência escolar em mais de 20 mil pessoas atendidas pela Obra do Berço durante os 6 anos de parceria, formando assim uma cultura de valorização da educação, diante de um país marcado pelos problemas de alfabetização e atraso no desenvolvimento escolar.
O projeto não se restringiu a entrega de um kit escolar, mas sempre foi acompanhado de atividades lúdicas, debates sobre o assunto, com intuito de compartilhar a propósito de valorização da educação escolar, estimulando os alunos e suas famílias à permanência ou retorno à escola, como forma de garantir a formação de cidadãos participativos e conscientes quanto aos seus direitos e deveres.
5. Qual a expectativa em torno do Projeto de Cultura Maker que está sendo desenvolvido em parceria com a Oriba?
De extrema relevância: o Projeto Oriba Virtual se tornou imprescindível, principalmente no contexto pandêmico em que estamos vivendo. Fomos forçados a nos reinventar, para continuar nosso atendimento, e para tanto precisávamos de ferramentas e conhecimentos para nos adequar a essa fase virtual que se tornou indispensável no mundo.
Inclusão social e digital: essa consciência nos levou à necessidade urgente de atualização do laboratório de informática do CCA NOVA, equipando-o com acesso à internet, programas educativos de qualidade e segurança cibernética, de modo que, tanto para o atendimento presencial, quanto online, houve avanço na qualidade do trabalho pedagógico desenvolvido e no acesso democrático ao conhecimento e a educação de qualidade dos usuários. As aulas online, em especial, adquiriram maior qualidade, após a criação de um estúdio para que os educadores pudessem gravar suas aulas.
Ao percebermos que, após pesquisas realizadas com as famílias, em torno de 70% que a responderam, tinham alguma dificuldade de acesso digital, tivemos que desenvolver estratégias para estimular a participação de todos . Desse modo foram desenvolvidas atividades offline, por meio da construção de objetos e jogos que os usuários poderiam construir em suas casas, mesmo aqueles em altíssima vulnerabilidade.
Cultura Maker: fez toda a diferença pois conseguimos manter o interesse deles, seja de forma remota ou presencial. Os usuários foram envolvidos no projeto por meio de atividades de letramento, inclusão e cidadania digital, além da participação em estratégias do método STEAM (que mistura Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática, para construção de práticas relacionadas ao investigar, descobrir, conectar, criar e refletir) e o método Design Thinking (que por meio da empatia incentiva a construção de designs para soluções e problemas).
Utilizamos também materiais acessíveis aos usuários, que desse modo foram incentivados a seguir a lógica e a prática de sustentabilidade. Como exemplo construímos um holograma com uma garrafa pet, como interface de projeção de uma imagem 3D, enviamos materiais que ensinassem de maneira lúdica a construção dos algoritmos lógicos de linguagem de computador.
6. Quais são as expectativas para o momento?
É podermos dar continuidade ao avanço desse projeto, de modo a complementar o desenvolvimento de uma metodologia de trabalho adequada à realidade de nossos usuários, de modo a propiciar-lhes condições básicas para sobrevivência em nossos dias, ou seja, acesso ao ensino escolar e à cultura digital e condições de preparação profissional e inserção no mundo do trabalho, fundamentais para a constituição de um cidadão integrado à nova sociedade.